Breve Resenha Histórica do Canário

05-05-2011 07:07

 

 

1º - O hábitat natural 

No oceano Atlântico, situado a pouco mais de cem quilômetros da Costa da África, mais ou menos em frente ao deserto do Saara (denominado deserto espanhol), localiza-se o arquipélago das ilhas Canárias. Desde o sec.XV esse grupo de ilhas pertencem a Espanha. Muitos dos historiadores antigos acreditavam ser aquelas ilhas renascentes da legendaria Atlântida. Alguns ainda, que estiveram ligadas ao continente africano em remotíssima época, desse separadas em razão das erosões ocasionadas pelas fortes correntes marítimas que ocorrem naquela região limítrofe do Saara. Outros, acreditavam-nas emergidas das águas do Atlântico, por erupções vulcânicas submarinas.

Cobertas por uma vegetação e fauna quase inexistentes em outras regiões do mundo, poucos eram mamíferos, répteis e batráquios que habitavam nelas.

Foi desse hábitat natural que surgiram os primeiros canários de que se tem conhecimento. De tamanho bem menor que os Canários conhecidos nos tempos atuais. Com cor macotada, verde, cinza e amarelo, de suave, harmonioso e melodioso canto, sua denominação canário se deve à ilha que foi seu habitat original. Cientificamente foi batizado com nome de Serinus canarius e classificado pelos naturalistas como pertencente à família dos Fringilídeos, no grupo dos Passeriformes.

2º - Da vida selvagem para a civilização

Muitas são as histórias e lendas sobre a introdução do canário na Europa. Naturalmente, devido ao impulso que tomou sua criação em todo continente europeu, desde a chegada dos primeiros exemplares (uns diziam ser do decorrer do sec.XIV, outros do XV), sua importância em termos de lazer, e em algumas regiões, principalmente Alemanha, Holanda, Bélgica e Itália, seu caráter econômico, levou muitos historiadores a carrearem para seu país a glória de haver descoberto aquela ave nas ilhas Canárias e a introduzido no velho continente. Fato deverás incontestável porque já lá se vão mais de quatro séculos, consequentemente seria impossível constatar com quem está a verdade. Portanto, temos que tomar como verossímeis os fatos históricos que conseguirmos apurar nos tempos hodiernos.

Bem, um dos historiadores, um autor holandês, o mesmo que escrevera sobre as origens dos Canários Malinois, diz que, pelo final do ano de 1573, um vento forte batia quente e sufocante sobre um velho veleiro espanhol, que velejava rumo a Lisboa. O mar encontrava bastante agitado e o capitão arrependera-se de haver dado ordem para que seu barco abandonasse as seguras paragens das ilhas Canárias. No veleiro, entre outras cargas, seguiam junto grandes e rústicas gaiolas, cheias de pequenos e esverdeados pássaros, capturados pelos marujos nas ilhas Canárias. Todavia, com grande esforço da tripulação, o veleiro logrou a chegar em Lisboa. Entretanto, após a descarga naquele porto, o barco deveria seguir dali para o porto de livorno, na época um dos principais portos da Itália. Ao aproximar-se de costa da Toscana , muito antes de seu porto de destino, novamente o velho veleiro é surpreendido por fortes ventos, que desta vez destroem suas velas e mastros, deixando-o na iminência de soçobrar.

Ao sentir aproximar-se a catástrofe, o capitão ordena que joguem a carga ao mar e que abram todas as portas das grandes gaiolas, que até ali com tanto zelo e cuidados, guardavam os pássaros trazidos das já citadas ilhas.

Soltos, os ventos fortes empurraram as aves para a ilha de Elba. Ali, passaram a ocupar as frondosas copas das arvores, dos bosques que cobriam a ilha e, nidificando, reproduziram-se em grande quantidade, passando a unirem-se em grandes bandos.

Devido ao belo e harmonioso canto das aves espalhadas por toda a ilha de Elba, essa logo atraiu a atenção de holandeses e italianos, que no inicio passaram a capturar pequenas quantidades das aves e vendê-las no continente, mas depois, devido à grande demanda de compradores, organizaram-se e iniciaram a captura em grande quantidade, exportando-as para toda a Europa. Essa é uma das versões existentes sobre a introdução do canário no continente europeu.

À medida que o canário se reproduzia em cativeiro, devido à quebra de sua cadeia alimentar original, que era natural (sementes e frutas nativas, insetos, etc.), alimentando-se diferentemente, a ave, sofrendo modificações de seu metabolismo (conjunto de fenômenos químicos e físico-químicos, mediante os quais se faz a assimilação e a desassimilação das substancias necessárias a vida), começou a sofrer mutações na forma, no colorido de sua plumagem, no seu canto, e até em sua estrutura óssea.

Paralelamente à metamorfose pela qual passava a ave em cativeiro, entusiastas, curiosos, cientistas e aficionados do novo hobby começaram a explorar em cruzamentos contínuos seus defeitos, qualidades e mutações à procura de aperfeiçoamento e fixação de novas raças, variedades de forma, plumagens, cores e canto.

Por meio de cruzamentos dirigidos, à medida que se desenvolvia a canaricultura, o pássaro ia cada vez mais e mais sendo aperfeiçoado, até chagar às incríveis centenas de cores e dezenas de diferentes formas distribuídas dentro da nomenclatura hoje existentes nos campeonatos ornitológicos do mundo inteiro. Progredindo muito pouco esse desenvolvimento, apenas quanto aos canários de canto, por que acreditamos que, com a criação dos canários de Hartz - os Rollers, cujo canto clássico parece estar completo, extinguiram-se as opções para melhoria das raças de canto.

A evolução do entretenimento

Após o ano de 1500, à medida que a configuração do canário sofria mutações, iniciavam-se também as primeiras reuniões dos primeiros grupos de aficionados do novo entretenimento, caracterizando desde então a formação de fato (a principio) dos futuros criadores de Canários.

Paralelamente a essa evolução, o canário, até então um desconhecido para o resto do mundo, mediante os meios de difusão e divulgação da época, passa a ter sua criação propagada para além das fronteiras do Velho Continente.

A primeira obra é séria (em volumes e generalidades), escrita por relação à criação de canários, é de autoria de Konrad Gesner (que dava aos canários o nome de "pássaros de açúcar", por julgar que as aves alimentavam-se exclusivamente de folhas e colmos de cana-de-açúcar), que publicou em 1555.

É importante registrar que a data de publicação da obra de Gesner (que dá a data da descoberta dos canários nas ilhas Canárias pelos espanhóis como sendo no ano de 1417) contradiz a data de inicio da criação de canários na Europa, atribuída por Humboldt como também por Bolle, que em suas obras afirmam ter-se iniciado em fins do sec.XVIII e não em meados do sec.XIV, conforme Gesner.

Contudo, a despeito das discordância e desencontros de datas, em sua história, a criação de canários começava a empolgar os europeus em geral assegurando ainda mais o sucesso do desenvolvimento da nova distração.

 

Retirado de: "O Canário Através dos Tempos"


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